O TRIBUNAL DOS BICHOS
Uma fábula em defesa dos animais
Baseado no livro: O tribunal dos bichos – Uma fábula em defesa dos
animais
Autor: Vilmar Berna
Editora Paulus
Roteiro : Professora Olga Lucia
NARRADOR: As relações entre nós e os animais estavam
estremecidas. Vindos de todas as partes do mundo, os bichos se
reuniram para decidir como agir com os humanos, dali para a frente.
TODOS – Guerra! Guerra!
NARRADOR: Gritavam os mais exaltados, depois de ouvirem os
relatos das vítimas do tráfico de animais silvestres ou de experiências
em laboratórios. Era preciso fazer alguma coisa. A coruja, que a tudo
observava atentamente, sugeriu:
CORUJA: Proponho a eleição de um tribunal para decidir que tipo de
relação devemos ter com os humanos daqui para frente.
NARRADOR: Os bichos aprovaram imediatamente a ideia e
resolveram eleger a Coruja para juiz daquele caso.
Também elegeram o Mico-leão-dourado como advogado de defesa
dos humanos, o Coelho como representante da acusação e, para o
júri, um casal de bichos de cada espécie: mamífero, ave, peixe, inseto
e réptil.
OS ANIMAIS TOMAM CADA QUAL O SEU LUGAR NO TRIBUNAL
(Caminhando com dificuldade), o coelho tomou o seu lugar.
CORUJA (anunciou solenemente a Coruja, sorteando quem falaria
primeiro) : Declaro instalado o Tribunal dos Bichos !
-Com a palavra, o representante da Acusação.
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COELHO: Acuso os humanos de nos tratarem com crueldade. Sou
uma prova viva disso. Durante muito tempo fui vítima dos humanos,
junto com os outros animais como macacos, cães, gatos. Usaram-nos
como cobaias para testes de remédios e produtos. Muitos de nós
fomos sacrificados para estudos, como se fôssemos insensíveis à dor,
como se não tivéssemos direitos à vida e à dignidade.
_ Peço aos jurados a condenação dos humanos !!! Contra quem
devemos declarar guerra sem trégua a partir de agora!
LEVANTA O MICO-LEÃO-DOURADO
MICO-LEÃO-DOURADO: Discordo do colega!. O fato de existirem
humanos cruéis e insensíveis não significa que todos os humanos
sejam assim.
COELHO: O nobre colega Mico-leão-dourado defende muito os
humanos, mas parece esquecer que foram eles que quase levaram
sua espécie à extinção. Desde o século passado, vocês foram
caçados impiedosamente para enfeitar chapéus e salões da nobreza e
quase desapareceram com a destruição acelerada das florestas em
que viviam.
MICO-LEÃO-DOURADO: É verdade, caro colega – mas os humanos
podem mudar. A criação dos grupos ecológicos e o aumento da
consciência ecológica em todo o mundo é uma prova disso. Foi graças
a essa capacidade dos humanos de reconhecer erros e mudar de
atitudes que minha espécie pôde ser salva.
(Coelho pula de um lado ao outro com impaciência)
MICO-LEÃO-DOURADO: Assim como eu, muitos outros bichos
também estão tendo uma nova chance de sobreviver, com a criação
de áreas protegidas, como parques e reservas biológicas, e leis cada
vez mais rigorosas de proteção aos animais. Além disso, os humanos
editam listas de espécies ameaçadas de extinção em todo mundo,
como estratégia para nos preservar.
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COELHO: Entendo... (IRONIZA) Pena que milhares de outras
espécies não tiveram a mesma chance e foram extintas para sempre
da face da Terra. Com que direito os humanos agem assim conosco?
Afinal, somos tão filhos da Criação quanto eles. Também somos filhos
de Deus!
CORUJA: Chegou a vez de ouvir as testemunhas da defesa: Que
entre o Cão.
CÃO: Sou um animal doméstico e tenho muitos amigos entre os
humanos. Eles me tratam com carinho, me dão comida e água fresca
à vontade. Minha cama é bem confortável. Se adoeço, eles correm
logo para o veterinário e cuidam de mim. Quando fico triste e sinto
falta de companhia, os humanos me levam para passear e encontro
outros cães e nos divertimos bastante.
MICO-LEÃO-DOURADO: Este cão é mais um exemplo de quanto os
humanos podem ser carinhosos e amigos. Assim como ele, milhares
de cães, gatos e outros animais domésticos convivem com os
humanos e são tratados por eles como se fossem membros da mesma
espécie, como se fossem filhos.
COELHO: Mas também existem muitos animais domésticos que
sofrem crueldades. Sei de caso de muitos cavalos obrigados a
carregar cargas acima do seu limite de força, filhotes que são mortos
ou abandonados, cães que passam a vida inteira presos a correntes,
apanham dos donos, têm feridas que ninguém trata, passam fome e
sede. Muitos desses animais são adquiridos filhotes, como se fossem
brinquedos para crianças pequenas. As crianças crescem e muitas
vezes não se preocupam em trocar a água, dar comida ou levar seus
animais para passear ou vacinar. Muitos animais que vemos
abandonados pelas ruas, passando fome e frio, um dia viveram em
alguma casa, até serem expulsos.
MICO-LEÃO-DOURADO: O nobre colega tem razão, mas também
são muitos os casos como o da testemunha, e é isso que quero
destacar para o júri. Não defendo os humanos porque os acho
perfeitos, mas porque conheço muitos humanos dignos, que nos
respeitam e lutam por nossos direitos e também acredito que mesmo
aqueles que nos tratam mal podem mudar de atitude. No caso dos
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animais domésticos, existe um movimento dos próprios humanos em
sua defesa, como por exemplo, o GAPAG aqui em nossa cidade.
Muitos animais estão sendo esterilizados para que não tenham mais
filhotes, evitando serem abandonados mais tarde.
CORUJA: Chamo a primeira testemunha arrolada pelo representante
da acusação – Que entre o tucano.
TUCANO: Sou o único sobrevivente de um grupo de dez tucanos
capturados na floresta pelos traficantes de animais silvestres,. Meus
outros companheiros morreram, ou no ato da captura, ou no
transporte, ou no depósito. Tive sorte de voltar à natureza graças à
ação da polícia ambiental, que chegou de surpresa na feira onde eu
estava à venda e prendeu os traficantes.
COELHO: Muitos humanos vivem da compra e venda de animais
silvestres, como se fôssemos simples mercadorias. Apesar de que no
Brasil esse comércio ser proibido e considerado crime inafiançável,
muitos animais silvestres são vítimas desse comércio. Os maiores
culpados são os humanos que compram casacos de pele ou objetos
confeccionados com animais silvestres e gostam de ter animais presos
em gaiolas. Se não existisse ninguém para comprar, também não
existiria ninguém para capturar ou vender esses animais.
CORUJA: Que entre a segunda testemunha da defesa.
SABIÁ: ( falar com uma voz bem fraquinha) – Sou uma sabiá muito
velha. Vivo num apartamento, junto com outras companheiras. Há
aves aleijadas, outras doentes, algumas machucadas e só
conseguimos sobreviver graças à atenção de uma senhora que nos
trata com todo o carinho e atenção.
MICO-LEÃO-DOURADO: Meus amigos, vemos aqui mais um exemplo
da dedicação dos humanos. Assim como esse caso das aves, existem
médicos veterinários, hospitais dedicados unicamente a cuidar de nós.
Existem zoológicos e centros de triagem onde somos tratados e,
dependendo de nosso estado de saúde, reintroduzidos na natureza
com garantia de sobrevivência.
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COELHO: O Colega parece esquecer que também existem aves que
passam a vida inteira presas em gaiolas, quando deveriam estar livres
na natureza. Para justificar essa crueldade, os humanos costumam
dizer que, uma vez livres, não saberiam encontrar alimentos ou se
defender dos predadores.
MICO-LEÃO-DOURADO: Sei muito bem disso, como sei que isso
também está mudando. Muitos humanos já estão se recusando
comprar novas aves ou recebê-las como presente. Esse é o primeiro
passo para acabar com os pássaros engaiolados.
CORUJA: Que entre a segunda testemunha de acusação:
PERDIZ : ( entra andando com dificuldade) Detesto os humanos
porque eles insistem em nos caçar. O pior é que chamam isso de
esporte. Levei um tiro de um caçador que arrancou-me uma das
pernas.
COELHO: A caça, senhores, é mais uma prova da crueldade humana.
Precisamos impor e exigir nossos direitos declarando GUERRA AOS
HUMANOS!
CORUJA: Que entre, então, a última testemunha: UM SER HUMANO
(DESCONFORTO DOS ANIMAIS PRESENTES – todos falando ao
mesmo tempo)
CORUJA: Silêncio! , lembrem-se de que os seres humanos também
são membros da Criação, pertencem à espécie homo sapiens. São
animais, como nós, só que racionais. Também têm direito de participar
do Tribunal dos Bichos.
HOMEM: Somos vítimas de nós mesmos. Não só aos animais que
tratamos mal, mas aos nossos próprios semelhantes.
COELHO: O humano agora quer se fazer de vítima, para se livrar de
seus crimes contra os animais.
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CORUJA: Calma, nobre representante da acusação! Todos terão a
sua vez de falar. Peço ao humano que prossiga, explicando melhor
sua afirmação.
HUMANO: Em nossa sociedade é permitido que um viva da
exploração do outro. Milhares de pessoas vendem sua força de
trabalho em troca de um salário miserável, que mal dá para comprar
comida. Sem dinheiro, sujeitam-se a morar em locais insalubres, e
muitos morrem vítimas de doenças, principalmente crianças, devido às
condições ambientais precárias em que vivem.
COELHO (RECLAMANDO): O humano está se desviando novamente
do assunto. Fala dos problemas sociais de sua espécie como
estratégia para se omitir dos problemas ecológicos que nos afetam.
HUMANO: O nobre Coelho está enganado, pois destruição ecológica
e degradação social são como dois lados de uma mesma moeda.
O COELHO TEVE QUE RECONHECER QUE DESSA VEZ O
HUMANO ESTAVA CERTO. (ASSENTIR COM A CABEÇA)
HUMANO: Sob o argumento de gerar progresso e desenvolvimento,
grandes empresas expulsam camponeses de suas terras, incentivam
o desmatamento e especulação fundiária, esgotando solos,
contaminam águas, inviabilizam a pesca artesanal e o extrativismo
vegetal, promovem o crescimento desordenado das cidades.
COELHO: Mas os humanos se enriquecem com essa exploração da
natureza!
HUMANO: Ao contrário. A riqueza produzida pelo trabalho de todos
serviu apenas para concentrar ainda mais poder nas mãos de uns
poucos, agravou a pobreza do mundo, marginalizou populações e
classes sociais inteiras, além de estimular guerras.
O HUMANO TERMINA DE FALAR E A PLATEIA FICA EM SILÊNCIO
PENSATIVA.
CORUJA FALA SOLENEMENTE: Agora o júri irá decidir: qual será o
relacionamento entre bichos e humanos daqui para frente?
TODOS DIRIGEM SEUS OLHARES PARA OS JURADOS,
ANSIOSOS POR UMA DE CISÃO.
NARRADOR se dirige à plateia: SE VOCÊ FOSSE UM DOS
JURADOS, QUE DECISÃO TOMARIA?
Ficar em silêncio por uns 5 segundos e encerrar com uma música
que fale de ecologia (sugestão: Ser Humano, rap do Roberto Carlos
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