sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Peça teatral O tribunal dos bichos

O TRIBUNAL DOS BICHOS


Uma fábula em defesa dos animais

Baseado no livro: O tribunal dos bichos – Uma fábula em defesa dos

animais

Autor: Vilmar Berna

Editora Paulus

Roteiro : Professora Olga Lucia
NARRADOR: As relações entre nós e os animais estavam


estremecidas. Vindos de todas as partes do mundo, os bichos se

reuniram para decidir como agir com os humanos, dali para a frente.

TODOS – Guerra! Guerra!

NARRADOR: Gritavam os mais exaltados, depois de ouvirem os

relatos das vítimas do tráfico de animais silvestres ou de experiências

em laboratórios. Era preciso fazer alguma coisa. A coruja, que a tudo

observava atentamente, sugeriu:

CORUJA: Proponho a eleição de um tribunal para decidir que tipo de

relação devemos ter com os humanos daqui para frente.

NARRADOR: Os bichos aprovaram imediatamente a ideia e

resolveram eleger a Coruja para juiz daquele caso.

Também elegeram o Mico-leão-dourado como advogado de defesa

dos humanos, o Coelho como representante da acusação e, para o

júri, um casal de bichos de cada espécie: mamífero, ave, peixe, inseto

e réptil.

OS ANIMAIS TOMAM CADA QUAL O SEU LUGAR NO TRIBUNAL

(Caminhando com dificuldade), o coelho tomou o seu lugar.

CORUJA (anunciou solenemente a Coruja, sorteando quem falaria

primeiro) : Declaro instalado o Tribunal dos Bichos !

-Com a palavra, o representante da Acusação.

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COELHO: Acuso os humanos de nos tratarem com crueldade. Sou

uma prova viva disso. Durante muito tempo fui vítima dos humanos,

junto com os outros animais como macacos, cães, gatos. Usaram-nos

como cobaias para testes de remédios e produtos. Muitos de nós

fomos sacrificados para estudos, como se fôssemos insensíveis à dor,

como se não tivéssemos direitos à vida e à dignidade.

_ Peço aos jurados a condenação dos humanos !!! Contra quem

devemos declarar guerra sem trégua a partir de agora!

LEVANTA O MICO-LEÃO-DOURADO

MICO-LEÃO-DOURADO: Discordo do colega!. O fato de existirem

humanos cruéis e insensíveis não significa que todos os humanos

sejam assim.

COELHO: O nobre colega Mico-leão-dourado defende muito os

humanos, mas parece esquecer que foram eles que quase levaram

sua espécie à extinção. Desde o século passado, vocês foram

caçados impiedosamente para enfeitar chapéus e salões da nobreza e

quase desapareceram com a destruição acelerada das florestas em

que viviam.

MICO-LEÃO-DOURADO: É verdade, caro colega – mas os humanos

podem mudar. A criação dos grupos ecológicos e o aumento da

consciência ecológica em todo o mundo é uma prova disso. Foi graças

a essa capacidade dos humanos de reconhecer erros e mudar de

atitudes que minha espécie pôde ser salva.

(Coelho pula de um lado ao outro com impaciência)

MICO-LEÃO-DOURADO: Assim como eu, muitos outros bichos

também estão tendo uma nova chance de sobreviver, com a criação

de áreas protegidas, como parques e reservas biológicas, e leis cada

vez mais rigorosas de proteção aos animais. Além disso, os humanos

editam listas de espécies ameaçadas de extinção em todo mundo,

como estratégia para nos preservar.

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COELHO: Entendo... (IRONIZA) Pena que milhares de outras

espécies não tiveram a mesma chance e foram extintas para sempre

da face da Terra. Com que direito os humanos agem assim conosco?

Afinal, somos tão filhos da Criação quanto eles. Também somos filhos

de Deus!

CORUJA: Chegou a vez de ouvir as testemunhas da defesa: Que

entre o Cão.

CÃO: Sou um animal doméstico e tenho muitos amigos entre os

humanos. Eles me tratam com carinho, me dão comida e água fresca

à vontade. Minha cama é bem confortável. Se adoeço, eles correm

logo para o veterinário e cuidam de mim. Quando fico triste e sinto

falta de companhia, os humanos me levam para passear e encontro

outros cães e nos divertimos bastante.

MICO-LEÃO-DOURADO: Este cão é mais um exemplo de quanto os

humanos podem ser carinhosos e amigos. Assim como ele, milhares

de cães, gatos e outros animais domésticos convivem com os

humanos e são tratados por eles como se fossem membros da mesma

espécie, como se fossem filhos.

COELHO: Mas também existem muitos animais domésticos que

sofrem crueldades. Sei de caso de muitos cavalos obrigados a

carregar cargas acima do seu limite de força, filhotes que são mortos

ou abandonados, cães que passam a vida inteira presos a correntes,

apanham dos donos, têm feridas que ninguém trata, passam fome e

sede. Muitos desses animais são adquiridos filhotes, como se fossem

brinquedos para crianças pequenas. As crianças crescem e muitas

vezes não se preocupam em trocar a água, dar comida ou levar seus

animais para passear ou vacinar. Muitos animais que vemos

abandonados pelas ruas, passando fome e frio, um dia viveram em

alguma casa, até serem expulsos.

MICO-LEÃO-DOURADO: O nobre colega tem razão, mas também

são muitos os casos como o da testemunha, e é isso que quero

destacar para o júri. Não defendo os humanos porque os acho

perfeitos, mas porque conheço muitos humanos dignos, que nos

respeitam e lutam por nossos direitos e também acredito que mesmo

aqueles que nos tratam mal podem mudar de atitude. No caso dos

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animais domésticos, existe um movimento dos próprios humanos em

sua defesa, como por exemplo, o GAPAG aqui em nossa cidade.

Muitos animais estão sendo esterilizados para que não tenham mais

filhotes, evitando serem abandonados mais tarde.

CORUJA: Chamo a primeira testemunha arrolada pelo representante

da acusação – Que entre o tucano.

TUCANO: Sou o único sobrevivente de um grupo de dez tucanos

capturados na floresta pelos traficantes de animais silvestres,. Meus

outros companheiros morreram, ou no ato da captura, ou no

transporte, ou no depósito. Tive sorte de voltar à natureza graças à

ação da polícia ambiental, que chegou de surpresa na feira onde eu

estava à venda e prendeu os traficantes.

COELHO: Muitos humanos vivem da compra e venda de animais

silvestres, como se fôssemos simples mercadorias. Apesar de que no

Brasil esse comércio ser proibido e considerado crime inafiançável,

muitos animais silvestres são vítimas desse comércio. Os maiores

culpados são os humanos que compram casacos de pele ou objetos

confeccionados com animais silvestres e gostam de ter animais presos

em gaiolas. Se não existisse ninguém para comprar, também não

existiria ninguém para capturar ou vender esses animais.

CORUJA: Que entre a segunda testemunha da defesa.

SABIÁ: ( falar com uma voz bem fraquinha) – Sou uma sabiá muito

velha. Vivo num apartamento, junto com outras companheiras. Há

aves aleijadas, outras doentes, algumas machucadas e só

conseguimos sobreviver graças à atenção de uma senhora que nos

trata com todo o carinho e atenção.

MICO-LEÃO-DOURADO: Meus amigos, vemos aqui mais um exemplo

da dedicação dos humanos. Assim como esse caso das aves, existem

médicos veterinários, hospitais dedicados unicamente a cuidar de nós.

Existem zoológicos e centros de triagem onde somos tratados e,

dependendo de nosso estado de saúde, reintroduzidos na natureza

com garantia de sobrevivência.

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COELHO: O Colega parece esquecer que também existem aves que

passam a vida inteira presas em gaiolas, quando deveriam estar livres

na natureza. Para justificar essa crueldade, os humanos costumam

dizer que, uma vez livres, não saberiam encontrar alimentos ou se

defender dos predadores.

MICO-LEÃO-DOURADO: Sei muito bem disso, como sei que isso

também está mudando. Muitos humanos já estão se recusando

comprar novas aves ou recebê-las como presente. Esse é o primeiro

passo para acabar com os pássaros engaiolados.

CORUJA: Que entre a segunda testemunha de acusação:

PERDIZ : ( entra andando com dificuldade) Detesto os humanos

porque eles insistem em nos caçar. O pior é que chamam isso de

esporte. Levei um tiro de um caçador que arrancou-me uma das

pernas.

COELHO: A caça, senhores, é mais uma prova da crueldade humana.

Precisamos impor e exigir nossos direitos declarando GUERRA AOS

HUMANOS!

CORUJA: Que entre, então, a última testemunha: UM SER HUMANO

(DESCONFORTO DOS ANIMAIS PRESENTES – todos falando ao

mesmo tempo)

CORUJA: Silêncio! , lembrem-se de que os seres humanos também

são membros da Criação, pertencem à espécie homo sapiens. São

animais, como nós, só que racionais. Também têm direito de participar

do Tribunal dos Bichos.

HOMEM: Somos vítimas de nós mesmos. Não só aos animais que

tratamos mal, mas aos nossos próprios semelhantes.

COELHO: O humano agora quer se fazer de vítima, para se livrar de

seus crimes contra os animais.

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CORUJA: Calma, nobre representante da acusação! Todos terão a

sua vez de falar. Peço ao humano que prossiga, explicando melhor

sua afirmação.

HUMANO: Em nossa sociedade é permitido que um viva da

exploração do outro. Milhares de pessoas vendem sua força de

trabalho em troca de um salário miserável, que mal dá para comprar

comida. Sem dinheiro, sujeitam-se a morar em locais insalubres, e

muitos morrem vítimas de doenças, principalmente crianças, devido às

condições ambientais precárias em que vivem.

COELHO (RECLAMANDO): O humano está se desviando novamente

do assunto. Fala dos problemas sociais de sua espécie como

estratégia para se omitir dos problemas ecológicos que nos afetam.

HUMANO: O nobre Coelho está enganado, pois destruição ecológica

e degradação social são como dois lados de uma mesma moeda.

O COELHO TEVE QUE RECONHECER QUE DESSA VEZ O

HUMANO ESTAVA CERTO. (ASSENTIR COM A CABEÇA)

HUMANO: Sob o argumento de gerar progresso e desenvolvimento,

grandes empresas expulsam camponeses de suas terras, incentivam

o desmatamento e especulação fundiária, esgotando solos,

contaminam águas, inviabilizam a pesca artesanal e o extrativismo

vegetal, promovem o crescimento desordenado das cidades.

COELHO: Mas os humanos se enriquecem com essa exploração da

natureza!

HUMANO: Ao contrário. A riqueza produzida pelo trabalho de todos

serviu apenas para concentrar ainda mais poder nas mãos de uns

poucos, agravou a pobreza do mundo, marginalizou populações e

classes sociais inteiras, além de estimular guerras.

O HUMANO TERMINA DE FALAR E A PLATEIA FICA EM SILÊNCIO

PENSATIVA.
CORUJA FALA SOLENEMENTE: Agora o júri irá decidir: qual será o


relacionamento entre bichos e humanos daqui para frente?

TODOS DIRIGEM SEUS OLHARES PARA OS JURADOS,

ANSIOSOS POR UMA DE CISÃO.

NARRADOR se dirige à plateia: SE VOCÊ FOSSE UM DOS

JURADOS, QUE DECISÃO TOMARIA?

Ficar em silêncio por uns 5 segundos e encerrar com uma música

que fale de ecologia (sugestão: Ser Humano, rap do Roberto Carlos

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